domingo, 6 de março de 2016

Dia internacional da mulher no 8 de março: Verdade ou mentira? Foram ou não queimadas?









Parece tão comum afirmarmos ou numa superficial consulta pela internet decretar o 8 de março como o dia internacional da mulher, no entanto, a escolha desta data é motivo de controvérsia. Quero antecipadamente afirmar que o 8 de março não tem nada a ver com uma suposta retaliação à mulheres numa fábrica têxtil em 1857 nos Estados Unidos como é comum divulgar no Brasil.
Alguns até afirmam que o bendito 8 de março rememorava a morte de Hipátia, matemática e filósofa romano-egípcia falecida neste dia no ano de 415, isso é mera coincidência. Propaga-se que a data lembrava um trágico episódio em 1911, Nova York, de um incêndio criminoso de uma fábrica têxtil onde morreram 146 operárias. Na verdade o incêndio da fábrica de blusas femininas Triangle Shirtwaist ocorreu em 25 de março de 1911, foi acidental e não estava associado a qualquer greve. Neste fato morreram 123 mulheres e 23 homens por queimaduras, inalação de fumaça e desmoronamento. Esse fato serviu de estímulo para a criação do sindicato internacional das mulheres trabalhadoras que passou a lutar por melhores condições de trabalho das operárias têxteis, contudo, não foi motivo da criação do dia internacional da mulher. Possivelmente esse fato permaneceu no imaginário coletivo a tal ponto de pessoas, imprensa e movimentos o elegerem equivocadamente como a referência originária para o dia internacional da mulher. 



Clara Zetkin propôs o dia internacional da mulher

Clara Zetkin era alemã, membro do partido comunista alemão e militava no movimento operário que se dedicava à conscientização das mulheres. Segundo a socióloga Eva Blay:

Ao participar do II Congresso Internacional de Mulheres Socialistas, em Copenhagem, em 1910, Clara Zetkin propôs a criação de um Dia Internacional da Mulher sem definir uma data precisa.. Contudo, vê-se erroneamente afirmado no Brasil e em alguns países da América Latina que Clara teria proposto o 8 de Março para lembrar operárias mortas num incêndio em Nova Iorque em 1857( BLAY, 2004).
E mais greves

Ocorreu também a chamada greve do “pão e rosas” no estado de Massachusetts em janeiro de 1912. Na ocasião 20 mil mulheres pararam a cidade de Lawrence por quase dois meses e meio. Em março de 1912 a greve teve fim com as reivindicações atendidas, mas logo depois os direitos foram perdidos. Interessante que o 8 de março consagrou-se na Rússia pré-revolucionária em 1917, protestos que antecederam e abriram caminho para a tomada do poder pelos comunistas.

Com a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) eclodiram ainda mais protestos em todo o mundo. Mas foi em 8 de março de 1917 (23 de fevereiro no calendário Juliano, adotado pela Rússia até então), quando aproximadamente 90 mil operárias manifestaram-se contra o Czar Nicolau II, as más condições de trabalho, a fome e a participação russa na guerra - em um protesto conhecido como "Pão e Paz" - que a data consagrou-se, embora tenha sido oficializada como Dia Internacional da Mulher, apenas em 1921(CENTRO DE INFORMAÇÃO DA MULHER).

A cronologia para chegar ao dia internacional da mulher

Vale ressaltar que o 8 de março não foi um fato isolado, mas um conjunto de manifestações das mulheres por melhores condições de trabalho e vida, bem como, por direitos que lhes eram negados. Transcrevo a cronologia elaborada pela historiadora Joelza Domingues que enfatiza as lutas femininas ao longo do tempo até a declaração da ONU em 1975 como o 8 de março sendo o dia internacional da mulher.

Tem-se, assim, a seguinte cronologia: 1908, 3 de maio: a organização Mulheres Socialistas celebra o Dia da Mulher em Chicago, Estados Unidos. 1909, 28 de fevereiro: as Mulheres Socialistas do Partido Socialista dos Estados Unidos organizam, em Nova York, o Dia Nacional da Mulher, em homenagem à greve das operárias têxteis de 1908. 1910: a II Conferência Internacional de Mulheres Socialistas, ocorrida em Copenhague, propõe a criação de um Dia Internacional da Mulher sem contudo, estipular uma data específica. Durante o congresso defendeu-se a luta pela igualdade de direitos e pelo sufrágio universal a todas a mulheres. 1911: primeira celebração do Dia Internacional da Mulher Trabalhadora na Alemanha, Áustria, Dinamarca e Suíça, posteriormente estendido a outros países. 1914: primeira celebração oficial do Dia Internacional da Mulher na Alemanha, Suécia e Rússia quando se levantou a bandeira pela paz, pouco meses antes de eclodir a Primeira Guerra Mundial. 1917: no dia 08 de março (23 de fevereiro no calendário Juliano), trabalhadoras de tecelagens de Petrogrado, na Rússia, entram em greve e reivindicam a ajuda dos metalúrgicos. O movimento desdobra-se em um levantamento popular contra a monarquia czarista e pelo fim da guerra sob o lema “Paz, terra e pão”. A data entrou para a história como prenúncio da Revolução Bolchevique e foi posteriormente escolhida como Dia Internacional da Mulher. 1922: a China celebra pela primeira vez o Dia Internacional da Mulher. 1936: primeira celebração do Dia Internacional da Mulher na Espanha. 1975: a Assembleia Geral da ONU declara o dia 8 de março como Dia Internacional da Mulher 1977: a Assembleia Geral da ONU amplia o significado da data que passa a ser Dia Internacional dos Direitos da Mulher e da Paz Internacional. Desde então, vários países oficializaram este dia dentro de seus calendários nacionais. 1994: os Estados Unidos reconhecem o Dia Internacional da Mulher acatando a reivindicação de Beata Pozniak, uma atriz e ativista imigrante da Polônia (DOMINGUES, 2015).

E no Brasil?

No Brasil, as movimentações em prol dos direitos da mulher surgiram em meio aos grupos anarquistas do início do século 20, que buscavam, assim como nos demais países, melhores condições de trabalho e qualidade de vida. A luta feminina ganhou força com o movimento das sufragistas, nas décadas de 1920 e 30, que conseguiram o direito ao voto em 1932. A partir dos anos 1970 emergiram no país organizações que passaram a incluir na pauta das discussões a igualdade entre os sexos, a sexualidade e a saúde da mulher. Em 1982, o feminismo passou a manter um diálogo importante com o Estado, com a criação do Conselho Estadual da Condição Feminina em São Paulo, e em 1985, com o aparecimento da primeira Delegacia Especializada da Mulher.

Concluindo

Como você observou neste texto, o dia internacional da mulher nada tem a ver com manifestações mercantilizadas tão comuns na atualidade. As mulheres lutaram contra as condições degradantes no trabalho, sobretudo, quando as leis trabalhistas eram fracas. Mulheres lutaram para ter direito a eleger e serem eleitas. Que no dia internacional da mulher seja lembrando que é um dia de vitória, mas também de luta pelo respeito e valorização da mulher que de frágil nada tem.
Por professor Bruno Rafael.
Referências
http://www.ensinarhistoriajoelza.com.br/dia-da-mulher-mito-e-verdade.


As origens e a comemoração do Dia Internacional das Mulheres. Ana Isabel Álvarez Gonzalez, 208 págs., Ed. SOF/Expressão Popular.